terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O descanso

Ele havia se aposentado e retornado à sua terra natal. Era uma cidadezinha paradisíaca, a beira de uma imensa lagoa de águas mansas, rodeada por muitas árvores e sombra a vontade nos dias de intenso calor. Após mais de trinta e cinco anos de trabalho, havia chegado a hora de descansar. Ele já nem lembrava mais de quanto tempo vivera na grande cidade, com seu alvoroço e suas correrias diárias. E, ali estava! A garantia de uma velhice tranqüila, sem compromissos que exigissem agenda ou horários. Empolgado, comprou um veleiro e se pôs a navegar. Dia após dia, ia e voltava, lançava âncoras e pescava, erguia velas e navegava. Era uma maravilha! Os dias passaram, as semanas chegaram, os meses correram e os anos se mostraram longos, imensos, gigantescos. O vento que inflava as velas já não era tão fresco como antes. O sol que lhe bronzeava a pele, já incomodava. As águas que o banhavam já não eram tão mornas assim. Ele se viu parado, preso, aposentado! E agora? Para onde ir? O que fazer? As lembranças da cidade grande e suas avenidas repletas de automóveis já não saíam da mente. Mas, o que estaria acontecendo? O tão almejado sonho da aposentadoria estaria virando pesadelo? O descanso tão sonhado já não era tão interessante? A paisagem, outrora divina, estava se tornando enfadonha? Já começavam a ser sentidas saudades do ambiente do escritório! Que falta já estava fazendo a mesa abarrotada de papéis, documentos e pastas! Que vazio lhe dava já não poder ler as mensagens eletrônicas na exata hora em que chegavam ao seu computador! Estaria ele condenado a descansar eternamente em um cenário de cartão postal? Que coisa enfadonha! Que chato! Que saco! Nesse meio tempo, lá na antiga empresa de nosso personagem, o novo funcionário que ocupava a mesa que lhe pertencera, pensava. "Que sorte do nosso aposentado! Feliz, sem compromissos e sem nunca mais ter de pisar aqui. Isso que é vida! Eu daria tudo para estar lá, no lugar dele!" Quem está certo? Existe um tempo para tudo? Devemos seguir um roteiro com hora para trabalhar e hora para parar? Ou devemos ir preparando nossa mente para, assim que a idade chegue e se esgote o tempo da labuta, estarmos preparados para essa parada? Eu vou começar a guardar dinheiro para comprar o meu barco, de preferência, um veleiro. E, já comprei um mapa para decidir onde ancorar a minha vida na velhice. Tomara que seja em um porto seguro, de águas calmas e límpidas. Ah, e com a sombra de árvores para estender a minha rede.

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